segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

À margem das águas


Era um dia como todos os outros e, como todos os outros, eu precisava ouvir a voz de Deus; no entanto, talvez em razão da tempestade que minha vida se tornara nas últimas semanas, eu me encontrava ainda mais necessitado de obter Seus conselhos e uma direção mais amena para que pudesse prosseguir. Decidi, ainda de madrugada, que pela manhã correria como “Cristão” de John Bunyan rumo a um lugar isolado da cidade e não pouco distante de meus dissabores, a fim de desfrutar de deleitáveis momentos na presença do Senhor Jesus. Enquanto meu coração velava pelo dia que havia de nascer, meu corpo exausto e desmaiado desejava a indolência de uma típica manhã de domingo, mas o fardo que pesava sobre meus ombros impulsionou-me a desesperadora busca por algo novo para um ano também novo, que para mim talvez ainda não houvesse apresentado qualquer novidade.
Chegando a este lugar, dispus-me avidamente a orar e adorar a Deus, sendo, contudo, a todo o momento atormentado por insetos que não permitiam que eu me concentrasse e me sentisse à vontade na tão agradável companhia do Espírito Santo. Por inúmeras vezes os repreendi, julgando que foram eles enviados pelo inimigo para me dispersar. Não adiantou, pois continuavam a importunar-me. Decidi ir para um local mais aberto, onde não houvesse tantas árvores, passei um riacho e fui para o alto de um convidativo monte. Deitei-me sob uma frondosa árvore, regozijando-me por ter encontrado um recanto ideal para descansar nos braços do Pai e receber a paz de que tanto carecia minha alma; foi então que recebi uma picada, e outra, e outra... “Basta!” – enfurecido gritei. Impetuosamente e com o interior repleto de murmurações subi dali para além das árvores e adentrei em meio a plantas desfolhadas, com frutos podres e completamente adornadas por espinhos, até ser por uma destas tocado e ferido.
Não agüentava mais, estava decepcionado, porque pouco havia adiantado ir àquele lugar, pelo contrário, eu só ficara ainda pior do que antes, posto (ou suposto) que não ouvira sequer um sussurrar divino. Resolvi ir embora, mas não percebi que Deus já estava a falar comigo, porém eu não compreendi sua mensagem. Antes de atravessar o riacho, o Espírito Santo convenceu-me a sentar à margem das águas por alguns minutos, e depois de alguns instantes de silêncio e harmonia, percebi algo: não existiam insetos ali, eles não me incomodavam mais, eu estava livre daquilo que me perturbava e desviava minha atenção do Todo-Poderoso, eu estava onde Deus queria que eu estivesse – no centro da sua vontade.
El-Shaddai, que dentre suas variações significa “monte invencível”, mostrou-me o porquê de tantas vezes nos perdermos pelo caminho – simplesmente porque trilhamos nossos próprios caminhos -, o porquê de sermos constantemente sufocados pela dor e pelo sofrimento – a resposta é que sempre escolhemos esgotar nossas próprias forças, em vez de deixar desde já Ele lutar por nós. Enquanto permaneci em lugares que aos meus olhos trariam tranqüilidade (ausência de perturbações) e aparentemente me proporcionariam felicidade (sentimento passageiro), não encontrei a paz e nem a alegria (ambas compõem o fruto do Espírito); ao invés disso, fui ferido pelo mundo e machucado pelos espinhos de meus caminhos tortuosos.
Naquele dia, Deus me mostrou que sua presença é uma fonte que jamais se secará e que ela é o melhor lugar para se estar – o centro da sua vontade para as nossas vidas. Quando estamos em sua presença, os demônios não podem nos tocar, as nossas feridas recebem bálsamo e a nossa alma refrigério e, acima de tudo isso, podemos perceber que o sofrimento é apenas um breve episódio que compõe uma história de final feliz; final este que apesar de conhecermos muitas vezes nos esquecemos: uma eternidade na presença do Rei dos reis, do Senhor dos senhores, onde não haverá dor, nem lágrimas, mas somente delícias perpetuamente.
Ao sair daquele lugar, sabia que nunca mais poderia sair de perto Deus. Não importa se na minha frente encontrarei o vale da sombra da morte, pois sei que antes dele sempre estarão os pastos verdejantes e as águas tranqüilas da presença de nosso Senhor (Salmos 23).

2 comentários:

  1. Wesner, quando li esse texto pela primeira vez logo q vc postou...achei maravilhoso....uma experiencia impar neh....
    Continue escrevendo....hauhauhau.....e que a correria do trampo novo nao te impessa de postar...rsrsrrs

    bjaaaooooo e muito sucesso pra vc!!!

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  2. Emily, perdoe-me a demora, mas só agora consegui ver seu comentário. Obrigado pela atenção que sempre despende na leitura de minhas postagens. Abraço. Até mais.

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