Num momento de ócio
Vi uma borboleta amarela pousar em minha janela,
talvez nunca tenha visto algo tão belo assim ou
nunca tenha encontrado tempo para admirar coisas tão simples.
A paz daquele momento excedeu a todas as desgastantes
tardes de trabalho, à toda pressa de uma vida que mais se
compara à uma panela de pressão pronta a explodir,
excedeu também a todas as insuficientes vinte e quatro horas
de cansativos afazeres, infinitas cobranças e nenhuma satisfação
digna de ser descrita neste poema.
Aquele instante tão insignificante para um homem por demais compromissado,
tornou-se, de repente, o feed-back de toda uma jornada.
não que durante estes segundos estivesse rendido à ociosidade,
mas que ao exercitar o ócio, mesmo que desastrosamente,
tenha reencontrado um sentido de viver pleno e pequeno como a palma da mão.
Ajuntei ríquezas, porém, não amontoei brasas sobre a minha cabeça;
viajei pelas sete maravilhas do mundo, no entanto, não percebi
como é belo o jardim de minha própria casa;
tracei alvos e metas para minha empresa, só que jamais atentei
para os sonhos de um coração apaixonado;
negociei com os homens mais importantes para o mundo,
mas nunca reservei um tempo para ficar com as pessoas
mais importantes para mim;
fiz muitas obras grandiosas... que hoje não passam de
castelos construídos sobre a areia de uma praia chamada "stress",
sujeitas à ferrugem, à traça e às tempestades.
Isso tudo posso ver num espelho, como que por um enigma revelado,
e que sirva de exemplo para esta alienada geração:
A borboleta que voou em minha janela numa vaga tarde de
verão.